sexta-feira, 2 de maio de 2014

CRÔNICA: TRÊS NATAIS PARA UM HOMEM SÓ
     Retiro da gaveta o presente que comprei para o Freitas e coloco no bolso de seu paletó.
     - Gravata? – ele já rasgou o embrulho e contempla com nostalgia os hieróglifos dourados sobre o fundo azul. – Egípcia?
     - Italiana. Não gostou?
     - Eu deveria ter nascido nessa época... – Freitas faz um olhar de pirâmides ao longe. – Ter  vivido a.C., entendeu, a.C! -  Antes de Cristo?
     - Exatamente. (suspira) Não agüento mais esses Natais.
     Cabeça baixa, mão comprimindo a testa, Freitas começa a rodar pela sala. Para de repente:
    - Quantas mulheres você tem?
    - Acho que uma só. – respondo tolamente.
    - Pois eu tenho três. Três ex-mulheres, filhos com as três. Três Natais para ir e tenho de ir aos três.
     - E o que há de tão desagradável nisso? – quero saber.
     - Você não conhece minhas três ex-sogras...
     - Horríveis?
     - Ao contrário. Me adoram. Me obrigam a comer. [...]
(Jamil Snege. Gazeta do Povo, Paraná, 24/12/2000.)



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