CRÔNICA: TRÊS NATAIS PARA UM
HOMEM SÓ
Retiro da gaveta o presente que comprei
para o Freitas e coloco no bolso de seu paletó.
- Gravata? – ele já rasgou o embrulho e
contempla com nostalgia os hieróglifos dourados sobre o fundo azul. – Egípcia?
- Italiana. Não gostou?
- Eu deveria ter nascido nessa época... –
Freitas faz um olhar de pirâmides ao longe. – Ter vivido a.C., entendeu, a.C! - Antes de Cristo?
- Exatamente. (suspira) Não agüento mais
esses Natais.
Cabeça baixa, mão comprimindo a testa,
Freitas começa a rodar pela sala. Para de repente:
- Quantas mulheres você tem?
- Acho que uma só. – respondo tolamente.
- Pois eu tenho três. Três ex-mulheres,
filhos com as três. Três Natais para ir e tenho de ir aos três.
- E o que há de tão desagradável nisso? –
quero saber.
- Você não conhece minhas três
ex-sogras...
- Horríveis?
- Ao contrário. Me adoram. Me obrigam a
comer. [...]
(Jamil Snege. Gazeta do
Povo, Paraná, 24/12/2000.)
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